A oftalmologista explicou quais são as doenças mais comuns, formas de prevenção, a importância de exames regulares e os cuidados com a visão das crianças
Em entrevista para a TV Assembleia, a Dra. Ana Paula Canto explicou os principais cuidados que devemos ter com a nossa saúde ocular.
Está começando o Assembleia Informa e o nosso assunto de hoje é a saúde ocular. Afinal de contas, o inverno chegou em boa parte do país e os cuidados com os nossos olhos devem ser redobrados. Algumas doenças, quando a gente fala da nossa visão. são silenciosas. Recebemos aqui na Sala da Comissão de Constituição e Justiça, a nossa casa de leis, a médica oftalmologista Dra. Ana Paula Canto.
Bruno José - Doutora, muito obrigado pela sua companhia. A primeira pergunta: muitas doenças, como a gente falou agora pouco, são silenciosas e podem provocar perdas visuais sem o acompanhamento de um médico de forma regular. Quais seriam essas principais doenças?
Dra. Ana Paula Canto - A principal delas é o glaucoma, que é extremamente silenciosa e leva a perda de visão de forma irreversível. O que é o glaucoma? É um dano no nervo óptico que leva informações para o cérebro para a gente poder fazer a imagem, para gente enxergar. E o qual o principal fator de risco do glaucoma? O aumento da pressão dentro do olho, mas a pessoa não tem nenhum sintoma até que a visão seja completamente diminuída. A pessoa começa a enxergar através de um tubo, pois o glaucoma vai comendo a visão de fora para dentro. Quando chega nessa fase que ela já não enxerga mais, que ela se bate, que vai estacionar um carro e não enxerga o carro lateral, não tem visão periférica, que vai perdendo e fica só com uma visão central, então, esse é o glaucoma. Aumenta muito fator de risco se você já tem pais com glaucoma, nesse caso, aumenta dez vezes o fator de risco de você desenvolver o glaucoma, principalmente, se você tem acima de 40 anos de idade. É uma doença que tem fator hereditário, sim, e que só consegue ser diagnosticada fazendo exame anual no oftalmologista. A gente consegue tratar o glaucoma, não consegue curar 100%, mas é possível tratar através de colírios ou, em casos mais extremos, com cirurgia. A doença se desenvolve independente da idade, mas ela é mais prevalente a partir dos 40 anos de idade, mas existe o glaucoma congênito, quando a criança já nasce com o glaucoma.
Bruno José - Mais do que apenas visitar um médico oftalmologista, alguns cuidados básicos de rotina podem fazer a diferença na hora de cuidar da nossa visão, por exemplo. Doutora, sempre tomar muito cuidado com o sol, essa seria a primeira dica?
Dra. Ana Paula Canto - Seria a primeira dica. Assim como o dermatologista fala para proteger o rosto com filtro solar, a gente tem que proteger nossos olhos de alguma forma, então, usamos óculos de sol que tenha proteção ultravioleta. Se ele for apenas um óculos escuro, sem proteção ultravioleta, ele é mais maléfico do que benéfico, porque no escuro a nossa pupila dilata e dilatando entram mais raios solares dentro do olho. Isso vai prejudicar a tua visão, vai causar uma maior incidência de catarata e degeneração macular relacionada à idade e até câncer no olho por causa dos raios solares. Pode causar câncer de pele na pálpebra e câncer na conjuntiva, que é aquela parte que dá a famosa conjuntivite, enfim, pode ter câncer nessa região com o fator de risco da exposição aos raios solares.
Bruno José - Conversando com alguns médicos oftalmologistas, é sempre comum para gente que não entende, não tem informação necessária, coçar um pouquinho o olho. Várias vezes durante o dia a gente acaba cometendo esse erro e é um erro que pode, inclusive, fazer com que a gente vá perdendo a visão de uma forma gradativa?
Dra. Ana Paula Canto - Na verdade, você levar as mãos aos olhos, pode levar alguma bactéria ou um vírus aos olhos que estava ali onde você encostou a mão e causar uma conjuntivite. Também pode fazer um machucado e ser uma porta de entrada para uma infecção maior na sua córnea e, principalmente, para os adolescentes e quem tem alguém na família que já teve ceratocone, o ato de coçar pode fazer desencadear essa doença, que é bem comum na adolescência e vai deixando a córnea mais bicuda,mais afinada, diminuindo muito a visão e, em casos mais extremos, podendo até necessitar de um transplante de córnea. Então, para todos os pacientes, o que vale é não coçar os olhos, isso é de extrema importância.
Bruno José - No começo dessa entrevista, falamos que estamos no período de inverno em boa parte do Brasil, principalmente, da região Sudeste até a região Sul. Os cuidados com os nossos olhos nessa época do ano devem ser redobrados? Por quê?
Dra. Ana Paula Canto - Devem ser redobrados porque é comum nós ficarmos mais aglomerados nessa época do ano, não abrirmos tanto a casa porque está frio, está chovendo algumas vezes e você não quer passar por esse período frio. Então, as pessoas ficam mais aglomeradas e podem transmitir mais gripe, mais resfriado e a conjuntivite viral, que nessa época do ano circula mais comumente. Também quando começa inverno, nós começamos a pegar os cobertores, blusas de lã e casacos que ficarão guardados ao longo do ano e elas apresentam ácaros e pó. O ideal seria você deixar essas peças arejando ou, às vezes, até passar aspiradores. Hoje em dia, inclusive, tem aspiradores especiais que tiram os ácaros para passar em cobertores, colchão, travesseiros e roupas de lã.
Bruno José - Nesta época do ano também é comum baixar umidade relativa do ar. Isso pode ressecar os nossos olhos?
Dra. Ana Paula Canto - Com toda certeza! Estamos passando por uma época de umidade relativa do ar muito baixa. As pessoas sentem aquela tosse que é mais seca, o nariz mais seco e, consequentemente, também os olhos mais secos. O ideal é usar um lubrificante, mas nada vendido normalmente na farmácia, sem prescrição médica. O ideal é consultar um oftalmologista para saber qual é a lágrima artificial ideal para o seu caso. É comum as pessoas usarem aquecedores de ar à noite, fazendo a umidade do ar ficar mais baixa no quarto. Não é incomum os pacientes, agora nesse período, chegarem pela manhã no meu consultório com os olhos bem secos.
Bruno José – Inclusive, para quem vive na região Centro-oeste do país, como Goiás e o Distrito Federal, nessa época do ano a umidade relativa do ar fica realmente muito baixa. Em Curitiba, onde gravamos essa nossa entrevista, já não chove há 20 dias. Então, precisa tomar cuidado?
Dra. Ana Paula Canto - Nós estamos acostumados com a chuva e agora passamos por uma outra época, diferente de quem mora no Distrito Federal e já está acostumado com o ambiente mais seco. Então, vale lembrar de colocar um umidificador de ar à noite, quando vai dormir, ingerir bastante líquido, usar colírio lágrimas artificiais, lembrar de piscar, nunca deixar o ar-condicionado quente ou frio, no caso do verão, virado direto para você, pois isso causa um olho mais seco. E, por incrível que pareça, os sintomas do olho seco são ardência, a qualidade da visão diminuída e, algumas vezes, até um lacrimejamento. Parece meio contraditório dizer que o olho está seco e está lacrimejando, mas é um reflexo do organismo, pois a qualidade das lágrimas vezes não é boa e o olho continua seco, apenas está lacrimejando.
Bruno José - A expressão que você utilizou agora pouco, o colírio que é vendido em farmácia. Qual é a diferença desse colírio, que muitas pessoas, inclusive, usam sem a prescrição médica. Quais são os riscos?
Dra. Ana Paula Canto - O colírio é um meio de administração de medicação, assim como comprimido é um meio de administração de medicação. Então, existem colírios lubrificantes, antibióticos e anti-inflamatórios. Têm alguns vendidos em farmácia, muito populares, que têm vasoconstritor junto. O vasoconstritor é o que faz com que o olho fique bem branquinho, ou seja, o olho está bem vermelho e você tem pinga o vasoconstritor e fica bem branquinho porque ele diminui a espessura e o calibre dos vasos. Mas, para quem tem pressão alta, o vasoconstritor pode causar um aumento da pressão. Já tive relatos de pacientes que usaram um colíro desses por vontade própria e acabaram no pronto-socorro, pois ele desencadeou uma crise hipertensiva arterial. Algumas vezes, os colírios também contêm alguns conservantes, que acabam ressecando mais o olho do que ajudando. Então, nós temos as lágrimas artificiais, que são a mesma coisa que lubrificantes, mas sem conservantes, para aquelas pessoas que precisam usar o colíro mais do que quatro a seis vezes por dia. Esse colírio, nesse caso, é o ideal, o colírio lubrificante sem conservante.
Bruno José – Agora vamos entrar no mérito das crianças. Quais são os cuidados que nós devemos ter com a visão, com a saúde ocular dos nossos filhos?
Dra. Ana Paula Canto - O cuidado já começa na maternidade. No Paraná, é obrigatório o teste do olhinho, justamente para ver se o reflexo vermelho está presente, se não tem nenhuma opacidade de córnea quando a criança nasceu ou catarata congênita ou aumento do tamanho do olho. Esse é o primeiro cuidado que os bebês já recebem na maternidade. Depois, o ideal é fazer uma consulta, pelo menos, nesse primeiro ano de vida, pois o médico oftalmologista pode ver se tem alguma outra alteração. Nas crianças prematuras, o cuidado é um pouquinho maior, ela tem que ir com mais frequência ao médico oftalmologista, mas os pediatras, nesses casos, orientam certinho quando sai da maternidade. Depois, o ideal é que se faça uma consulta uma vez ao ano até chegar aos sete anos de idade. Por que os sete anos de idade? Porque até os sete anos de idade, a visão ainda está em amadurecimento. Uma criança não enxerga igual a um adulto, ela vai ter o amadurecimento ao redor de sete anos de idade somente e a criança não sabe dizer se ela está enxergando ou não, se o que ela enxerga é o normal para ela. Um adulto que começa enxergar pior sabe que ele já enxergou melhor, mas a criança, não. Por isso, a importância de ir ao médico oftalmologista, fazer um exame oftalmológico. Algumas vezes, um olho tem muito mais grau do que outro e o cérebro vai dizer: essa câmera aqui, esse olho não está funcionando direito, então, eu não vou dar bola para ele e não vou fazer ele desenvolver a visão do jeito que precisaria, vou dar importância só para o outro olho. Esse olho fica amblíope, que é o famoso olho preguiçoso, por isso que algumas crianças na infância precisam usar o tampão. Nós tampamos o olho bom para forçar o olho ruim, que está enxergando menos, a enxergar melhor.
Bruno José - Existe uma discussão científica, dentro do meio, que afirma o seguinte: esta próxima geração que está vindo aí vai sofrer com um boom de miopia. Por quê?
Dra. Ana Paula Canto – Exato! Porque está se usando muito a visão de perto. Era muito comum as crianças irem brincar nas férias, passear na casa dos avós, subir em árvores, brincar na rua, coisas que, infelizmente, nas cidades maiores a gente não tem mais a possibilidade. Assim, as crianças estão usando muito, no dia a dia, a visão de perto ao utilizar celulares, tablets computadores, não só para o lazer, mas também para tarefas de casa ou na própria escola, e a visão de mais de perto faz desenvolver a miopia. Então, está se comprovando que isso aumentar um pouquinho o tamanho do olho e que isso desenvolve miopia. Por isso que precisamos tentar restringir o uso de celulares, tablets e computadores para crianças na hora do lazer, pelo menos. Os estudos mostram que o ideal seria duas horas de atividades ao ar livre para as crianças, na luz do dia. Não precisa ter sol, pode usar óculos de sol, mas na luz do dia. Eu costumo brincar com os adolescentes e com as crianças que não vale levar o celular tablet para parque, que não está valendo. É para deixar em casa para eles poderem brincar, correr e jogar bola.
Bruno José - Sair para se divertir, coisa que a nossa geração fez muito. Mas, doutora, levar sempre um óculos de sol para criança nunca é demais, não é exagero?
Dra. Ana Paula Canto - Não é exagero. Inclusive, a minha filha adora óculos de sol, até dentro de casa ela gosta de usar óculos de sol, mas com proteção ultravioleta sempre.
Bruno José - Não precisa nem falar, mas se a pessoa já utiliza um óculos de grau, ela precisa usar de uma forma rotineira?
Dra. Ana Paula Canto – Sim, senão ela terá muitas queixas. Às vezes, a pessoa passa a vida inteira com dor de cabeça e não sabia que essa dor de cabeça poderia ter causa ocular, uma falta de óculos. Então, usar os óculos melhora sua visão, melhora o seu desempenho no trabalho, na escola, na faculdade, evita dores de cabeça e te dá um maior conforto. Eu costumo brincar: por que que você vai ter uma televisão de última geração em casa se você não usa o óculos, não consegue enxergar. Isso não faz muito sentido. Então, nós precisamos melhorar a nossa máquina fotográfica, a nossa câmera, que seria o equivalente ao nosso olho para poder enxergar o mundo de uma forma melhor.
Bruno José - Quem não aguenta mais utilizar os óculos, no caso meu caso, particularmente, eu gosto de usar os óculos e não me sinto muito bem usando lentes. Mas, para quem já usa óculos há dez, 20, 30 anos e não aguenta mais, como é que funciona esses procedimentos cirúrgicos para correção do grau do olho?
Dra. Ana Paula Canto - O procedimento cirúrgico realizado em pessoas mais jovens, entre 40 a 45 anos, é a cirurgia refrativa corneana. O que é córnea? É aquela lente transparente na frente do olho. Na cirurgia, o que a gente faz é remodelar essa córnea, mudar o formato dela para que os raios luminosos consigam cair no lugar onde eles têm que cair para formar a imagem da melhor maneira possível. Existem duas técnicas principais; a técnica do PRK e a técnica do lasik, as duas remodelam a córnea e fazem você enxergar melhor. No geral, quem pode operar são pessoas com até 10 graus de miopia, até 6 graus de hipermetropia ou até 5 e 4 graus de astigmatismo. Mas, não é só o grau que é operável, precisa fazer exames com oftalmologista para saber, primeiro, se esse grau está estável, porque não adianta operar se não estiver, é a mesma coisa você colocar um óculos hoje e, no ano que vem, aumentar o grau e precisar de um óculos novo. Também precisa ter uma espessura mínima na córnea, pois quando a gente usa o laser para remodelar, a gente consome tecido, então, tem que ter uma espessura mínima, além de um formato que não seja patológico, que permita esse remodelamento.
Bruno José – Mas, não é uma cirurgia de alta complexidade?
Dra. Ana Paula Canto – É uma cirurgia que os dados estatísticos mostram que é a que tem a melhor satisfação do paciente, chegando a quase 100%. É uma cirurgia que usa muita tecnologia e é muito segura, se bem indicada.
Bruno José – Então, de quanto em quanto tempo a precisa visitar um médico oftalmologista, usando óculos ou não?
Dra. Ana Paula Canto – A recomendação é que uma vez ao ano se consulte um médico oftalmologista. Não quer dizer que todo o ano você precisará trocar de óculos. Algumas pessoas pensam: esse ano eu não vou, porque não tenho como trocar o óculos, não estou com condições financeiras. Mas, não é preciso trocar os óculos todo ano. A consulta é para ver a sua saúde ocular, a pressão do olho, a retina, o fundo do olho, principalmente, naqueles pacientes que têm diabetes, pois podem ter alteração no fundo do olho, que leva à cegueira, então, ele precisa ser examinado.